Brasil para iniciantes parte II

E as viagens pelo Brasil com Ole e sua família continuaram. De Paraty seguimos para a Serra do Papagaio. Mamãe e papai queriam agradar os pais do Ole e reservaram pra nós uma casinha muito bonitinha, bem afastada… mas bem afastada mesmo. Tão afastada que nossa primeira aventura foi encontrar a tal da casa. Depois de uma longa viagem, cruzando 2 estados brasileiros, chegamos no município de Aiuruoca e seguimos as instruções para chegar onde ficaríamos nos próximos dias, mas Franzi, a motorista designada, ralou muito pra nos guiar pelos últimos 8 km de estrada de terra, maltratada pela chuva. A escuridão não ajudava, especialmente quando Christoph e papai tiveram que descer do carro e seguir a pé em busca de ajuda. Mas eles bem que conseguiram, encontraram Caio, Polyana e Brown (guardem esse nome). Estes cuidavam de um hostel que ficava a um bom caminho da nossa casa, mas Caio subiu na sua moto e nos ajudou a chegar até o nosso destino.

Nossa casinha laranja

No dia seguinte, descansados da noite aventurosa, voltamos à rotina: trilha. Depois de passear um pouco pelo lugar, resolvemos no fim da tarde visitar Polyana e Caio no hostel, e já no meio do caminho encontramos um cachorro muito simpático, que passou a nos seguir, querendo o tempo todo que jogássemos um pedaço de pau, que ele então buscava e nos trazia de volta. Papai e Christoph, que já o conheciam, apresentaram: aquele era Brown.

Atentem para a foto acima… Não, não é o papai cutucando o nariz o detalhe importante. É o Brown, o cachorro marrom que está prestes a sair correndo atrás do pedaço de pau que eu acabo de atirar. Em alguns momentos, Brown tentaria salvar nossas vidas, colocando a dele em perigo – e essa foi provavelmente a frase mais melodramática já escrita nesse blogue.

Brown continuou nos seguindo até o hostel, por vezes até nos mostrou o melhor caminho, ou o pedaço do rio mais seguro pra atravessar. Chegamos, encontramos Poly e Caio, os adultos carregaram suas mensagens no celular, já que ali era nosso único ponto de acesso à Internet, e seguimos para conhecer o cultivo de cogumelo do casal, e a cachoeira que Poly nos queria mostrar. No caminho pra cachoeira, Brown adiantou-se à Poly, saindo cerca de 5 metros da trilha, parou num ponto e começou a latir. Polyana logo percebeu que Brown nos queria alertar pra algum perigo e nos mandou parar. Tudo aconteceu muito rápido, Brown parou de latir e Polyana começou a gritar por ajuda. Brown havia sido atacado por uma cascavel, que queria apenas se defender, achando que ele é quem queria atacá-la.

Felizmente tio Christoph, com muita coragem (e muito zoom) fez essa foto, que Caio então levou com ele pra cidade, às pressas, a procura de um veterinário especializado para salvar o Brown. Nosso retorno pra casa foi extremamente apreensivo. Ole em especial ficou muito triste com o sofrimento do nosso mais novo amigo. Mas, felizmente, poucas horas depois, Caio veio até nossa casa devolver a câmera do Christoph e dar as boas novas: Brown estava bem. A cobra provavelmente tinha se alimentado pouco antes do encontro, e não tinha veneno suficiente pra causar maiores problemas ao nosso fiel companheiro. Foi um grande susto, mas de certa forma uma história inesquecível. Ole, que preguntava pro meu papai o tempo todo quando é que veríamos uma cobra, deve ter ficado também satisfeito.

E nós bem que voltamos a fazer trilhas nos dias seguintes, mas agora com um pouco mais de cautela.

Foram dias incríveis mostrando pro meu querido primo Ole um pouco do Brasil, esse lugar cheio de pessoas extremamente importantes na formação da minha personalidade. Obrigado pela companhia, Ole! Obrigado também Vovó, Juju, Lala, Bisa, Vó Nina e Francisca, que tão bem me ajudaram a cuida desses três,e mostrar pra eles um pouco da hospitalidade brasileira.

Houve ainda uma outra aventura nessa viagem, pela qual eu passei sem a companhia do meu primo Ole, e que foi muito, mas muuuito mais assustadora do que qualquer encontro com cascavel. A tia Adriana, dentista oficial da minha família brasileira, descobriu que tinha uns bichinhos vivendo no meu dente. E aparentemente eles não podiam continuar vivendo ali, e eu tive minha primeira experiência na cadeira de uma dentista. Papai, ainda bem, esteve comigo e ele e tia Adriana conseguiram me acalmar. Uma hora e meia depois, concluído o procedimento de 15 minutos, eu saí de lá com os dentes como novos, sem bichinho nenhum, sorrindo à toa.

A foto não ilustra o nível de estresse da situação

E, no mais, foram muitos dias como os de costume no Brasil, com praia, sorvete, pipoca doce, Gael, Chloé e Zola, feira, conversas matinais com Vó Nina e Bisa, passeios no shopping e cinema.

Ole e sua família deveriam passar mais algumas boas semanas no Brasil. A ideia era terminar a viagem no final de abril em Salvador. Com a crescente pandemia do Coronavírus, os 3 resolveram seguir as recomendações do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha e partiram no dia 18 de março de Belo Horizonte de volta pra Berlim. Estão todos bem. E, falando em pandemia, acho que esse vai ser o assunto da próxima postagem.

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